segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Em...corqueilumina




Como um sol de polpa escura


para levar à boca,


eis as mãos: procuram-te desde o chão,


entre os veios do sono


e da memória procuram-te:


à vertigem do ar


abrem as portas:


vai entrar o vento ou o violento


aroma de uma candeia,


e subitamente a ferida


recomeça a sangrar:


é tempo de colher: a noite


iluminou-se bago a bago: vais surgir


para beber de um trago


como um grito contra o muro.


Sou eu, desde a aurora,


eu — a terra — que te procuro.




Eugénio de Andrade, in "Obscuro Domínio

1 comentário:

  1. Eugénio de Andrade no seu melhor. Belíssimo.

    As fotos também estão muito boas, como sairíam a PB?

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